PARABÉNS POESIA - DIA MUNDIAL DA POESIA

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POLÍCIA DE CHOQUE
*
são os homens de ferro do sistema
máquinas cientificamente programadas
nem sorrisos nem esgares
lábios cerrados olhos fixos nos vultos que se agitam
foram treinados para massacrar
nada os impede quando postos em movimento
não ouvem vozes nem lêem escritos
como os aviões não podem aterrar quando levantam
obedecem a ordens em código secreto
como cães de elite sequiosos de mostrar talento
são de choque intervenção ou especial
nenhum governo os dispensa ciente da sua fraqueza
e porque não vêm senão vultos
massacram velhos mulheres crianças mãe e pai
são inimputáveis que ninguém se engane
os inquéritos são normas apagadas ao cair do pano
mas não são invencíveis e como tal
tornam-se impotentes perante armas iguais
ou na presença de uma multidão
imagino Lisboa sitiada arquejando as gentes
vandalizadas na sua dignidade
sem emprego marginalizadas pelo estado
imagino se forem mais que um milhão
decididos a mudar o tempo a alterar a rota de vergonha
perante uma tal força de vontades de emoções
não há polícia que obedeça
nem quem ouse o código soletrar
**
autor: joão raimundo gonçalves (poema inserido no livro:(A indignação das PALAVRAS)
Alberto João Jardim…ILHA PORTUGUESA DA MADEIRA
imagem tirada da net
quando te levo ao hospital
fico ali no adro imerso em estranha solidão
à espera que me chegue o teu sinal
que venceste o mal que enfraquece o coração
*
não penso em nada consistente
é um caos vazio um longo atroz espectro
um sobe e desce de emoção crescente
em cada palmo que percorro em cada metro
*
olho os rostos dentro dos corpos encolhidos
estremeço quando as vozes chamam
nos altifalantes cujos sons me soam já sumidos
os nomes de pessoas que não rimam
*
fazes-nos falta porque és a nossa matriarca
a última ou a primeira tanto faz
a que alimenta a minha natureza anarca
e amplia a dimensão da nossa paz
*
de súbito do alarido das vozes em surdina
o teu nome como se de dentro de mim te extraíssem
seguido de familiar ou acompanhante
estremeço como se um impacto bélico d'arma divina
me abanasse e os orgãos auditores falissem
corro ao teu encontro destemido de amor amante
*
havia muita gente que sorria à tua volta
exímios nas técnicas de reanimação
quando o coração parte à rédea solta
e de repente pára à condição
*
deram-me um saco azul com teus pertences
e vi-te assim deitada desconfortável
teus olhos doces e o sorriso por onde vences
o desassossego do teu norte imutável
*
vai lá e trata bem do menino que delicia
já tão homem mas era infante quando o perdemos
naquela tempestade que então acontecia
há quanto tempo mãe inteira nele nos vivemos
*
adormeci a sonhar-te silêncio na enfermaria
tão serena no teu sono de menina
olhei a cama dos nossos corpos ainda vazia
a pensar que tudo começa onde termina
*
o sol irrompe na vertigem da atmosfera
a casa emerge dos silêncios abafada
a minha angústia é não saber que mais acontecera
a sentir a casa cheia da tua alma madrugada
*
toca o telefone no meu peito a emoção
estou velho atendo-o trôpego de mim apavorado
do outro lado a noticia da tua libertação
minha deusa tão tanto de ti eu sou apaixonado
*
jrg
quando o vento sopra de sudoeste
dizia o meu avô de olhos semicerrados
é tempestade o mar se torna agreste
faíscam raios soam trovões amedrontados
*
na rua pessoas correm desnorteadas
dizem palavras obscenas do tempo que faz
seja vento chuva ou sol abençoadas
são as que vivem do tempo serenidade paz
*
uns amam o sol tórrido estorricante
na praia os corpos desnudos a água parada
outros adoram a invernia exaltante
mar cavernoso inundações a terra amassada
*
há os que se deliciam triste Outono
árvores despidas da folhagem envelhecida
e os que vibram na Primavera ozono
clima cheio de doce amor paixão apetecida
*
se tempo fosse afim da humana consciência
se repartisse em lotes climatizados
ainda assim haveria a atroz impaciência
por desejos que amiúde são trocados
*
habituei-me a saudar embrulhado n'alegria
qualquer que seja o clima anunciado
sou eu que opero em mim constante a magia
de amar no tempo o acaso esperançado
*
digo bons dias ao sol esplendoroso
boa tarde vento frio e à chuva fascinante
boa noite ao cosmos negro vaporoso
no desejo de ser de todos os tempos amante
jrg
A Ilha bela pura e mítica
Onde os poetas anseiam a musa sibilina
Lugar de culto da ideia idílica
Onde a poesia me chama eterna feminina
Em cada esquina há um poema que espreita
A brisa mansa que ondula a sombra
Reflexo deslumbrante de folhas de palmeira
Em cada rua seja larga ou estreita
Há um tapete de versos em estrofes na penumbra
Que o sol no ocaso projecta à nossa beira
A sensualidade do corpo estendido na rede que balança
A poetisa soletra sílabas para versos de soneto
A alma transparente como se fora uma criança
Os lábios em surdina sensuais na doçura do dueto
Tão perto que me cheira a poesia
O mar azul-marinho a água cristalina
Por entre o verde luxuriante do arvoredo
Ouvem-se sons de odes etérea sinfonia
O marulhar das ondas a vida submarina
A lírica que canta do amor o seu enredo
Longe de pensar tesouro tão evidente
Mantendo em seu reduto a alma num quebranto
Até que a poesia lhes abanou a mente
Na ilha da poesia a Paquetá
Há versos que se soltam do bico das aves
E rimas consonantes na harmonia
Poetas que suspiram livres de etiqueta
Cheiros da sudação da alma em euforia
Rimando na maresia sem entraves
Vista de longe o casario como eu a vejo
Paquetá pode até parecer uma utopia
Que renasce esplendorosa em cada beijo
Quando o poeta a abraça na alma e rodopia
No dégradè das cores encarniçadas
Que o sol projecta quando cai sobre o poente
Há um prenúncio de amor em primazia
E pode ler-se a epopeia das almas empenhadas
Que vão fazer de Paquetá a ilha de quem sente
A Paquetá lugar de culto à poesia
Autor: JRG
Como é possível no mundo haver
Olhos belos tanta tristeza
Apenas por ser uma mulher
E tida por de maior fraqueza
Quando vejo os olhos dela
Que rutilam sorridentes
Senhora de saberes tão bela
Lanço gritos estridentes
É mãe mulher amante
E livre no pensamento e ser
Não há homem por mais tratante
Que não lhe deva viver
Quando vejo os olhos dela
Entre estrelas cintilantes
De natureza tão bela
Seus perfumes fascinantes
Que vileza cobardia nela bater
Violentá-la no eu na mente
Todo o homem que se ri do seu sofrer
É um aborto gorado má semente
Quando vejo os olhos dela
Doces lânguidos meigos de ternura
Mal posso imaginar que sendo bela
Seja vítima de maus tratos de tortura
Que lentidão para reconhecer
Sua dinâmica e força superior
Quanto tempo pode durar para viver
Na era da mulher plena a seu favor
Quando vejo os olhos dela,
Na luz do sorriso, radiantes
Exorto a criadora pura e bela
A aproximar os mundos tão distantes
Que absurdo este legislar
Sobre direitos absolutos naturais
Nada pode impedir uma mulher de dar
Educação e sentido aos homens colossais
Quando vejo os olhos dela
Azuis ou verdes pretos castanhos
Ou de outras cores que a fazem bela
Incito-a a libertar-se de medos estranhos
Que toda a mulher se permita a ousadia
De ser o rosto sonhado da justiça
Não só cantada em versos de dúctil poesia
Mas tida em conta como mais valia ética
Quando vejo os olhos dela
Febris de amor ou sofrimento
Fico suspenso de saber se de tão bela
É agora chegado o seu momento
aqui estou eu postado
sentinela avançada do meu medo
vestindo a personagem do soldado
numa guerra que me dita este degredo
vêm de longe do homem a quatro patas
todo o saber acumulado é-me indiferente
o homem antes de ainda andar de gatas
não era esta máscara que hoje nos mente
moldamos o carácter procura inglória da perfeição
desde as origens o homem crescendo meio razão meio selvagem
por muito que lhe adocem com ternura o coração
se sente a ameaça é na barbárie vítima e carrasco da voragem
autor:JRG
a poesia
pode ser racional
lírica
útil
a poesia
pode ser rústica
barroca romântica
táctil
a poesia
pode ser lasciva
erótica
subtil
a poesia
pode ser de combate
irosa
hostil
a poesia
pode ser a força
a vida a morte
fútil
a poesia
pode ser um homem uma mulher
de amor
dúctil
a poesia
tem de ser da alma
e sentir-se sentindo
sentir
autor: JRG
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