TODAS AS MANHÃS
imagem pública tirada da net
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TODAS AS MANHÃS
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todas as manhãs
ao acordar
primeiro a refeição do dia
o cheiro das maçãs
o sonho ainda intacto a vacilar
o pensamento em poesia
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depois a azáfama o ritual
o banho a imagem
o sorriso ao espelho a disfarçar
o toque d'alegria visual
a magia das palavras a coragem
de me desassossegar
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gosto de tudo em que me faço
e fiz-me de tanta coisa
de amor mágoa sorte ou azar
tantas vezes o estilhaço
transforma a dor que mata e poisa
onde me dói a gozar
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sou fruto maduro de mulher
feito de sangue e fel
nem raiva nem ódio mas indignado
pelo domínio da matéria sobre o ser
um frémito de não ser à flor da pele
faz-me andar quando parado
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todas as manhãs digo bom dia
à morte acocorada
e faço a vida romper pela negra esperança
nem deus nem pátria sou de fantasia
abraço o medo lavo a tristeza envergonhada
recuso ser mais que uma criança
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por isso me rio da intempérie
feita de gente medonha
que se diverte à espreita da minha morte
se masturbando em série
enquanto a alma de poeta sonha
saltar sobre o abismo à sorte
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todas as manhãs viaja o pensamento
seguindo as leis da natureza
despoluo o mar ateio fogo à consciência
liberto das grilhetas o vento
a terra resplandece ao sol sua beleza
não há tempo de parar a sonolência
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fogo!!!faço as palavras resistirem
numa união de facto
com a virtude do belo amanhecer
cobardes as palavras que fugirem
por uma nesga ou hiato
antes da liberdade acontecer
autor: jrg