25
Nov18
SE EU SOUBESSE O QUE NÃO SEI
romanesco
escultura de Leopoldo de Almeida
*
sei tão pouco
do tanto que há p'ra saber
quase nada sei
se mais soubesse era louco
por tão bem conhecer
as tramas que tecem a lei
*
o tanto que eu sei é nada
em tanta sabedoria
de sábios tão de tanto afiançados
p'ra minha alma pasmada
que saber tudo eu bem queria
mais os saberes bem guardados
*
o que eu sei já me cansa
por ser tão pouco saber
se eu soubesse o que não sei
abraçaria a criança
que tanto teima em crescer
dentro de mim a fechei
*
mas sinto que algo vai acontecer
é a cíclica mudança
desta feita por falta de pensamento
angustia-me olhar e ver
o desassossego que envolve a esperança
a escalada do ódio do momento
*
mais além vejo um vulto
uma mulher de negro de jeito imponente
sobre o peito um coração
de onde sai uma luz fascinante exulto
luz que entra na mente
que produz um efeito em contra-mão
*
sopraram ventos ciclónicos
a chuva torrencial lavou a terra inteira
sismos terramotos
engoliram armamentos atómicos
o silêncio quebrou a pasmaceira
e logo mais humana gente foi a votos
*
o tempo amanheceu
e toda a gente sabia o que fazer
saudavam-se sorridentes
espalhando luz onde havia breu
com o ódio a morrer
e a ganância excluída dos viventes
*
fecharam bancos prestamistas
bolsas e mercados
a usura a mais valia foram banidas
a alegria inundou os pessimistas
a economia social vingou sem dados viciados
as crises foram vencidas
*
alteraram-se os valores de riqueza
tão mais rico é quem mais ama
cada um sente prazer em fazer parte do Ser
não há mais fome nem pobreza
toda a gente tem direito à saúde mesa e cama
ninguém mais terá medo de viver
*
porque somos todos uma só humanidade
haverá um só território
uma só língua falada e escrita
uma só verdade
sobre a mentira sem o contraditório
a lei antiga é prescrita
*
se eu soubesse o que não sei
e visse para além da realidade oculta
uma premonição
o alvorecer duma nova grei
onde o ser avulta
e o amor abunda em todo o coração
jrg