imagem pública tirada da net
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MINHA MÃE...MEU PAI!
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às vezes lembro
a figura destemida de meu pai
filho dum carroceiro
quando ternamente me carregava ao ombro
possante a trabalhar sem um ai
nem tempo para pensar o dia inteiro
desde que nasci era dezembro
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outras com nostalgia
a imagem matriarca de minha mãe
o ar severo ou a doçura
com que denunciava a minha fantasia
de querer ser outro alguém
livre pensador contra a escravatura
usando como arma a poesia
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meu pai pouco falava
armazenando no sono a energia
trabalhador portuário
no verão nem ao domingo descansava
saía cedo madrugada quase dia
a ver se o não comiam na contagem por otário
onde houvesse trabalho ele lá estava
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minha mãe matriarcal
administrava a casa ela era a lei presente
ora acusadora ou defensora
conforme o dia amanhecesse no juncal
repartia a sopa o sermão a quente
marcava a disciplina e promovia a honra
que a cada um cabia no casal
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às vezes caminhávamos calados
e eu queria dizer-lhe tantas coisas que aprendera
pai que a vida de trabalho não é fardo
que se dê a quem trabalha por uns trocados
que amar era bem mais do que rendera
o Domingo a palmilhar areia ardente bem suado
sem um tempo de pensar outros cuidados
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outras discutiamos eu e ela
sobre a minha leviandade de comprar livros
se ao menos servissem para comer
não serás nada assim sem guia nem estrela
a escrever em vão sobre papiros
trabalha estuda arranja outra arte para fazer
e eu saía pela porta longe dela
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meu pai o meu orgulho de ser
minha mãe o meu engulho de ir além do mar
comi dos livros sim vendidos a pataco
meu pai homem esforçado minha mãe mulher
quando a vida desviou meu caminhar
e me levou da alma tanto amor do elo fraco
mas eu venci meus pais por tanto ler
autor: jrg