ARRITMIAS !!!
imagem tirada da net
quando te levo ao hospital
fico ali no adro imerso em estranha solidão
à espera que me chegue o teu sinal
que venceste o mal que enfraquece o coração
*
não penso em nada consistente
é um caos vazio um longo atroz espectro
um sobe e desce de emoção crescente
em cada palmo que percorro em cada metro
*
olho os rostos dentro dos corpos encolhidos
estremeço quando as vozes chamam
nos altifalantes cujos sons me soam já sumidos
os nomes de pessoas que não rimam
*
fazes-nos falta porque és a nossa matriarca
a última ou a primeira tanto faz
a que alimenta a minha natureza anarca
e amplia a dimensão da nossa paz
*
de súbito do alarido das vozes em surdina
o teu nome como se de dentro de mim te extraíssem
seguido de familiar ou acompanhante
estremeço como se um impacto bélico d'arma divina
me abanasse e os orgãos auditores falissem
corro ao teu encontro destemido de amor amante
*
havia muita gente que sorria à tua volta
exímios nas técnicas de reanimação
quando o coração parte à rédea solta
e de repente pára à condição
*
deram-me um saco azul com teus pertences
e vi-te assim deitada desconfortável
teus olhos doces e o sorriso por onde vences
o desassossego do teu norte imutável
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vai lá e trata bem do menino que delicia
já tão homem mas era infante quando o perdemos
naquela tempestade que então acontecia
há quanto tempo mãe inteira nele nos vivemos
*
adormeci a sonhar-te silêncio na enfermaria
tão serena no teu sono de menina
olhei a cama dos nossos corpos ainda vazia
a pensar que tudo começa onde termina
*
o sol irrompe na vertigem da atmosfera
a casa emerge dos silêncios abafada
a minha angústia é não saber que mais acontecera
a sentir a casa cheia da tua alma madrugada
*
toca o telefone no meu peito a emoção
estou velho atendo-o trôpego de mim apavorado
do outro lado a noticia da tua libertação
minha deusa tão tanto de ti eu sou apaixonado
*
jrg