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BIOCRÓNICAS

CRIAR BIOGRAFIAS OU CRÓNICAS ROMANCEADAS DE PESSOAS OU EMPRESAS

BIOCRÓNICAS

CRIAR BIOGRAFIAS OU CRÓNICAS ROMANCEADAS DE PESSOAS OU EMPRESAS

23
Jun12

DO OUTRO LADO DA VIDA...Convite lançamento Colectânea "CORDA BAMBA"

romanesco

foto de pastelaria estudios editora

*

 

DO OUTRO LADO DA VIDA…


*
Era tão de noite, alta madrugada e vieste, silenciosa como um felino, de manso caminhar por entre escombros, ruínas, da velha cidade adormecida. Tu e eu, num recanto da rua mal iluminada.
Os teus olhos ainda grandes, mal me olham, assustados. A pele do rosto descuidada e manchada pelo cisco das poeiras adejantes, sobre os antros onde te arrastas. Magra, diria escanzelada, enferma de carinhos e de ambição.
O sistema traiu-te e tu trais o sistema. Pagar na mesma moeda. Dente por dente. Sem olhar atrás nem para a frente nebulosa do caminho. Para ti, chegaste ao termo da etapa que para outros ainda é tão curta
Amparas-te no meu braço enquanto caminhamos lado a lado como dois amantes estranhos que tivessem combinado encontrar-se a esta hora, no momento estremo em que deambulavas na ânsia de encontrar algo, alguém que te bastasse o consumo da tragédia que já és.
Penso-te...que faço eu a teu lado? Do lado de fora de ti mulher…apenas te olhando no íntimo da tua ansiedade. 
Deixo-te sentada no carro e volto à porta do bar. Não ao Bar. Apenas a porta, onde um tipo de assobio saltitante, a barba indigente, puxa fumaças agressivas de uma espécie de cigarro.
Compro três tomas do produto que me indicaste e regresso ao carro em passos decididos. Tenho pressa.
Estás inclinada para a frente e uma humidade indecisa a bailar-te, escorrendo dos lábios entreabertos. Caíste sobre o banco. Tremes de alucinações. Balbucias palavras inteligíveis. Arranco com o carro, tenho pressa, enquanto preparas o produto e o injectas numa das veias disponíveis, sob o meu olhar de soslaio.

...

 
Not
a:

excerto do texto de minha autoria, uma pitada do recheio que envolve esta iguaria de emoções...reservem já o vosso exemplar...com a dinâmica da editora...a edição esgota-se num ápice...jrg

01
Dez08

FELIZ ANIVERSÁRIO MAMÃ

romanesco

 

“O dia começou cinzento com abertas de esperança que o sol aquecesse as almas do povo do burgo fuliginoso que se preparavam para as tarefas diárias. Estávamos no ano de 1938 e a guerra pela partilha do mundo, perfilava-se no secretismo dos gabinetes.

A cidade , onde as casas de aspecto sombrio, acasalavam com a ansiedade espelhada nos rostos, tinha, como em todas as cidades, um aglomerado urbano onde o sol assentava os seus raios luminosos e crepitantes de vida, e onde permanecia, vivificando, no êxtase dos olhares, o esplendoroso jardim de onde sobressaiam as rosas vermelhas e brancas que aromavam o ar e faziam dos moradores, seres mais belos no enquadramento dos verdes e das cores paradisíacas.

O mês de Novembro, prenunciado como um mês de chuvas fortes e frios de enregelar o mais agasalhado, apresentava-se, neste dia 12, de aspecto ameno, a convidar ao passeio ligeiro e sem pressas, apesar do frio, que a escassez de aragem, tornava suportável.

Foi o dia em que nasceu, já a noite ia alta, por entre sobressaltos e augúrios, para que nascesse antes da meia noite, não fora calhar a 13, dia maldito pelas superstições do povo.

Maria Eugénia, foi o nome que lhe destinamos, como o de uma Princesa, tão linda a sua imagem de menina, os cabelos aloirados, os olhos ainda sem a definição da cor, pareciam claros. Um corpinho mimoso que se apresentava ao mundo para que a tomassem e a mimassem.”

_Foi assim que meu pai descreveu o dia em que eu nasci, em nota no álbum de fotografias de família. Mal tive tempo de aprender a dizer mãe, palavra tão bela. Minha mãe morreu quando tinha 14 meses e fui criada pela minha avó e uns tios que me acarinharam com amor.

Os seus olhos agora verdes, de um verde claro como as águas de um lago purificado . Ele e ela, sentados no murete do miradouro das loucuras da juventude apaixonada, de onde se avistava o mar e a planície de aluvião que se esquadrinhava em belíssimos tons de verde, de onde eles estavam e ela se entusiasmava em falar de si, mulher, mãe, avó, mas sempre mulher.

Os cabelos brilhantes de prata, a pele clara e os olhos de um verde esmeralda ou de águas marinhas de uma pureza Tropical. Ela dizia-se gorda,mas ele que a via de uma outra dimensão, achava-a apenas cheinha, aprimorada pelo chic do vestir e o sorriso confiante e de sã alegria, com que por vezes se desfazia em sonoras gargalhadas.

Tinha querido conhecê-lo, aquele homem que escrevia palavras plenas de empatia que ela absorvia, desconfiada, mas prazenteira, porque a dispunha bem e a fazia evidenciar-se da alma.

Os filhos tentaram demovê-la dessa aventura perigosa. “A mãe não sabia quem ele era e estes conhecimentos virtuais são normalmente sustentados por almas tétricas, que congeminam, em desespero por se alimentarem de incautos atrevidos.” Mas ela lera o que julgava suficiente para aquilatar da veracidade do carácter daquele homem apenas um pouco mais novo que ela e fora e viera. Lera intervenções dele num espaço público. Sentira que lhe tinha apreendido a alma.

_Sabe, durante cerca de 10 anos fui tratada com muito mimo por minha avó e meus tios. Para meu pai eu era a luz da sua vida e ele manteve recato conjugal durante esse largo período do meu crescimento. Ainda por cima eu era doente, uma tuberculose ganglionar que me impediu de ser uma estudante diplomada, já que não assistia ao ano escolar completo, perdia por faltas e meu pai esforçando-se para que nada me faltasse, colocou-me em colégios de freiras e laicos chegando mesmo a colocar professores particulares em nossa casa. Aprendi música.Sei mas não tenho grau académico...

Os pinheiros de cujo aroma se deixavam embeber na doçura da tarde, protegiam-nos do sol que, no pino do dia, se tornara ardente. Era um sol de Outono, amarelado e belo.

_Imagino que era muito linda quando jovem e ansiava por encontrar o seu príncipe encantado.

A avaliar pela sua imagem presente, diria que era exuberantemente bela. E encimada por uma auréola de grande espiritualidade.

Ele viera porque se encantara daquele sorriso e da alma que perpassava indómita daquele ser ousado que o interpelava desabridamente sobre temas da sua interioridade. E onde lia aspectos de uma vida intensa de paixão e amor, por um homem que estava em todas as maravilhas que lhe aconteceram, e pelos cinco filhos que advieram desse amor intemporal.

_Não se adiante, ainda vou na minha adolescência. Tinha cortado as tranças e usava o meu primeiro penteado de menina crescida. Lembro-me de estar deitada no meu quarto onde nada faltava, a criada trazia-me o comer e tudo o que eu pedia. Em baixo, a minha madrasta perguntava se queria mais alguma coisa. Eu dizia que não, mas faltava-me o mais importante em qualquer doença, um carinho de mãe.

Notei uma lágrima nos olhos dela que se semicerraram por um momento, ou fora do sol que espreitava matreiro por entre a folhagem de agulha dos pinheiros? Levantou-se e deu uns passos em volta de onde eu estava, olhou o mar, do lado de cima do mar, de dentro de si para o mar e suspirou com ênfase, como se doesse ainda, se escaldasse, se mantivesse acesa a chama. E voltou com um sorriso nos lábios, dizendo-me com ironia.

_A minha vida dava um romance, mas seria eu quem o escrevia, ou pensa que lhe ia contar as minhas intimidades?

Ele sorriu e baixou os olhos para que não se confrontassem. Ele sentia esse desejo de a dissecar, de

explorar toda a sensibilidade que vislumbrava por detrás daqueles olhos verdes em tons claros, dissecar-lhe da alma as dores e as alegrias, os desgostos e as virtudes, as realizações e os sonhos.

_Fale-me de como era namorar nesse tempo em que, as famílias de bem protegiam até ao exagero as virgens casadouras, as castravam da liberdade de amar, de ser. Ou de se permitirem ir sendo de descoberta em descoberta, de se refazerem a cada fracasso ou desilusão.

Maria Eugénia olhou-o nos olhos, como que a querer decifrar se ele estava a abusar, se a queria induzir a que lhe falasse de assuntos que apenas a ela diziam respeito.

_Ah!, namorar!...Os meus pais e eu, vivíamos numa casa térrea, com um portão e a caixa de correio

à entrada, do lado esquerdo de quem se volta para a moradia.
_Um palacete.

_Qual palacete, seu nabo!...

Riram-se os dois, em efusivas gargalhadas. Os melros que debicavam grãos ou simples minhocas ali perto levantaram voo assustados. Passeavam lado a lado por entre hortênsias perfumadas. No lago, um casal de cisnes em movimentos graciosos lembram o Lago dos Cisnes.

_Era uma casa simples como tudo na minha vida, como eu na minha essência. Onde não faltava nada, mas simples O meu Príncipe, que eu tinha descoberto há bem pouco tempo, não podia entrar na minha casa antes de ter feito o pedido da minha mão a meu pai, daí, vinha pela calada da noite trazer-me bilhetes com poesias exaltantes de amor, que deixava na caixa do correio. Eu já sabia e tínhamos até inventado um sinal...

_Que sinal?...

_Isso é o que você queria saber. Só estou a divagar sobre o que acho que devo, ou posso confiar-lhe.

Inocências do meu viver. Eu descia da casa e vinha até junto do portão e quando ele estendia a mão dele para colocar o bilhete na caixa de correio, eu estendia a minha em simultâneo e tocava-mo-nos, com as pontas dos dedos. Apenas as pontas...e corria de novo para a casa, antes que alguém visse, ou desse pela minha falta.

Os olhos dele e dela encontraram-se de novo. Havia uma luz cintilante de tons suaves em cada olhar.

Há quanto tempo? De onde esta alma que se compõe de luz e magia fantásticas? De que povo ou espécie, ou de que outro Planeta. Porque ela era de um tempo para diante de si, não de trás mas de mais além e tudo nela se consubstanciava numa palavra. Amor.

_Fiz uma cura intensiva da minha doença e casei-me com o meu Príncipe, um homem que surgiu na minha vida para me dar amor e prazer de viver. Tinha o dom da poesia e da declamação. Foi um bom pai e um bom amante de sua mulher e de seus filhos.

E você?.. quem é você, afinal... tem nome?...

Ele sentiu a mudança brusca, como se ela se tivesse cansado de dizer de si, ou algo dela se rebelasse pelo desnudar da alma perante um homem que conhecia de há alguns dia apenas e que a ouvia em silêncios cortados aqui e ali por interpelações que a animavam a dizer mais, entretida em desfazer a solidão que se procurava instalar, e apesar de,como dizia, ter um grupo de amigos havia mais de 30 anos que se reuniam todos os meses em casa de cada qual em convívio de petiscos e conversas animadas até ás tantas da madrugada. Solidão que advinha de não ter um companheiro, seria? Ou de se sentir aprisionada nas teias da vida, obrigada agora a ter de dirigir tudo de si, a ser ela plena e única!... Mas sentia a falta de um carinho,um mimo, uma atenção, alguém que a fizesse ainda sentir mulher na sua infinitude.

Ele olhou-a compreensivo, um sorriso que a procurava no sentido mais obscuro do ser ela, a dar-se de amigo, porque ele tinha uma mulher que amava. Tinha uma vida completa, ainda que desfasada da concretização absoluta, e tinhas filhos e netos, mas amava o ser humano e bem mais do fundo de si, como que uma necessidade visceral, ou das profundezas etéreas da alma, o ser de mulher em toda ela a sua interioridade e exterioridade, o corpo e alma, a essência que o completava como homem absoluto. E sim, tinha um nome, era João Miguel.

_ Um seu criado_ e fez uma vénia digna de uma princesa.

Maria Eugénia soltou uma das suas gargalhadas estridentes, e pousando-lhe a mão sobre o ombro...

_ Você é mas é um nabo, um grande nabo!...

Estavam na sala de exposições onde decorria uma mostra da obra de Cargaleiro, pintor conterrâneo do local, e admiravam o traço fino exteriorizado na interiorização das cores multiformes em amplos esboços do que poderia ser uma evidência de cidade ou de mundo em explosão de cadências abstractas.

_Tive cinco filhos, ou seja, quatro raparigas e o meu caçula que surgiu por último, O  Manuel. A primeira foi a Georgete, a seguir Rosita...

_Tive uma grande amiga que se chamava Rosinha..

_Cale-se, seu nabo, deixe-me Terminar. Ofendi-o?

_Não, Maria Eugénia, continue, gosto deles crus. Adoro-os...nada me ofende de si...

Ela dera-lhe uma palmada nas costas. Sentia que mandava, que era ela quem determinava as regras do jogo, sem o abespinhar, porque o sentia colaborante ou rendido à sua sedução de poder, ou inebriado das extrapolações que ela fazia do seu sentido de humor para a realidade que eles eram, amigos.

_Anabela que está numa Ilha, longe e Tatiana, a última das raparigas. E tenho por eles um extremo amor, sempre que me chamam eu vou. Ainda que tenha projectos, largo tudo e vou, por que eles são os frutos do meu grande amor, são os mais lindos e belos filhos do mundo, são meus. E tenho netos, ou julgava que era só você que os tinha? O Lourenço, que é o mais velho, da minha Georgete, com quem tenho uma cumplicidade muito profunda, a Belinha do meu Manuel, um encanto de menina, tão mimosa, como são as meninas e o Rafael da Minha Tatiana, que é o mais rabino, o mais irrequieto e com quem tenho, igualmente,laços de grande empatia e muito amor.

A tarde aproximava-se do seu termo. Sem darem por isso correram todo o parque, o jardim decorativo de amplos espaços verdes e flores de uma beleza expectante. Sentiram aromas cruzados de diversos sabores. A exposição de pintura, a vista soberana sobre o mar, descendo a falésia e detendo-se o olhar nos quadrados certinhos das pequenas hortas espalhadas na planície , e nas tonalidades dos verdes e o castanho da terra.

Queriam ainda ver o por do sol que ambos adoravam e de que tinham sempre uma sensibilidade diferente a cada um que viam, porque não há dois momentos iguais.

_Estou certo que todas as suas belas filhas e o seu filho maravilhoso, têm por si um amor infindo de paixão. Quase uma irrealidade hoje em dia, em que os critérios materiais se sobrepõem à mais valia humana e ao espírito que norteia o grupo, ser do mesmo clã, o sangue e a alma, os valores da integridade da família, como um só corpo e uma só alma, ou uma só alma repartida em vários corpos mas de índole idêntica, a alma. E tem quantos anos, a Maria Eugénia?...já fez sessenta?

A ele parecia-lhe com toda a fiabilidade do seu poder de análise, que ela estaria próximo dessa idade, pelo tom da pele, acetinado ao olhar,a desenvoltura do espírito, o raciocínio lógico e perspicaz, onde ele próprio já vacilava, pelo porte direito , quase altivo, ou altivo de facto, porque era ela quem tinha sempre a última palavra, ainda que despropositada.

Ela riu-se, pensou primeiro que ele a gozava despudoradamente, que se ria à sua custa , por pensar que ela embarcaria nessa da simpatia de dizer uma idade menor, que a sobre-valorizasse no conceito em que o abarcaria.

-Não, os meus filhos riem-se da forma como eu digo a minha idade actual. Não porque eu tenha preconceitos, mas gostei da ideia. E então eu digo que estou acima, ou tenho mais que 68 e vou fazer 70.

_Então tem 69 !!!... disse as palavra admirado, porque não a fazia com aquela idade.

_Seu nabão!!!...e era para dizer? Era???... Faço anos dia 12 deste mês de Novembro.E logo pela madrugada, ainda no silêncio da noite, para que nada interfira no meu grito, tenciono descer ao quintal da casa e gritar à Lua: Acabaram-se os 69!!!... E como a Lua é mentirosa...percebe???...

Riram-se num abraço de amigos, os olhos leais que interagiam luminosos nos encontros da alma.

Teriam uma hora para o por do sol e experienciar o sentir dessa imagem sedutora nas suas sensibilidades, ainda que diferente.

Passou por eles um Pavão e outro e mais alguns em majestosa exibição de caudas em leque de multi-cores fascinantes.” A dança pungente de um animal carente “

_E a festa? Como e aonde vai ser?...Sonha com ela, a festa? E os presentes...

O rosto dela iluminou-se de uma forma que a tornava ainda mais bela. Passou a mão pelos cabelos prata, o verde dos olhos tornou-se mais cristalino. O Sol em descida lenta para o ocaso, os pavões emitindo sons guturais caracteristicos da dança do amor. E de repente serena, as palavras pausadas, como se temesse errar.

_Não sei como nem onde vai ser, embora ouça uns zum zuns, em surdina, que se apagam quando me aproximo.. É verdade que eu gostava que fosse na minha casa, com a presença de todos sem excepção, mesmo a minha Anabela, Seria talvez o meu sonho maior deste momento, mas compreendo que cada um deles tem a sua vida, não posso exigir tanto da vida que tanta coisa bela me permitiu viver, desde logos os filhos. Será, por certo na casa de um deles.

João Miguel, digo-lhe com sinceridade, que realizei praticamente todos os sonhos que idealizei. Ficar-me-á este, mas tê-los-ei juntos pelo Natal. E quanto a presentes, satisfaço-me com um beijo e o amor que sinto neles por mim.

Estavam sentados num dos bancos de madeira que ornavam as laterais do caminho, serpenteado, entre os canteiros de flores. Os pavões insistiam na conquista do amor, a brisa arrefecia o ar, adocicando-o, enquanto o sol descrevia o arco que o conduziria ao abismo do mar.

Maria Eugénia, olhando as cores em que se repartem os raios solares em reflexos de sais e mar e gases cósmicos, vai dizendo um poema espontâneamente:

 

Ter amor, esse sentimento tão profundo

eu em ti e tu em mim, como um só corpo

Ter amigos, intensos, que nos ajudem

e que não digam aquela frase torpe

" se és meu amigo não me pessas  dinheiro emprestado".

Ter família

Ter gente que se interessa por nós

e gente por quem nos interessamos.

Ter gente que partilha a solidariedade.

Ter trabalho que nos alimenta os ócios.

Ter saúde e alegria por viver.

Ter orgulho de sermos o que somos.

Ter vontade. de viver sete vidas.

Ter sonhos que regurgitam na memória livre

e se soltam para se realizarem.

Ter medo que nos usem e abandonem,

descartável, sem préstimo.

Ter sorrisos que encantam quem nos quiser descobrir.

Ter a alma romântica de poeta.

e espalhar poesia como arma de arremesso.

Ter a faculdade de aprender e de ensinar.

Ter a humildade de reconhecer que nada sabe.

Ter  a mente aberta a novas descobertas.

Ter o homem como fim de todos os motivos.

Ter da arte e do engenho e a ideia da concórdia.

Ter imagem.

Ter valores.

Ter a porta sempre aberta.

Ter uma convivência pacifica com os outros animais

Ter a graça de uma criança e ser feliz

 

 João Miguel ouve em silêncio a voz quente e terna de Maria Eugénia, os olhos fixos nas imagens que sempre lhe provocam o êxtase da alma, interioriza-se na alma amiga que diz como se cantasse. E vê o mar refulgindo ainda, não de prata, talvez seja oiro e o céu rubro de sangue emanescente de vida. Em toda a linha do horizonte, há medida que o sol, como bola de fogo transparente, mergulha nas águas cinzentas do mar, numa magnífica  imagem de tons avermelhados, como uma linha limite entre a luz e a noite, a desvanecer-se...a iludir-nos...

_Maria Eugénia, foi um dia encantador. Conhecê-la, estar consigo uma tarde inteira e assistir a seu lado, em volta de si, a este evento cíclico de cada dia e ouvir a sua voz sussurrando esse belo poema que me deixa mudo da emoção de a ter como amiga. E, porque não sei construir nem dizer poemas, vou dizer-lhe uma premonição que me surgiu durante a nossa tarde da cavaqueira.

_Uma premonição, seu nabo!... Veja lá o que diz!...Não brinque com coisas sérias...

Maria Eugénia diz estas palavras com um sorriso que transparece alegria e ele ousa continuar, certo que não cometerá nenhuma indelicadeza.

_O seu aniversário vai ser em sua casa, como sonhou um dia. Fará o seu grito à Lua pela madrugada.Vestirá um vestido lindo de ramagens brancas sobre azul e usará a gargantilha que um dia o seu amor lhe ofereceu.

A Primeira a chegar é a Tatiana. Vem eufórica por a festejar. Vem bela, porque é linda e tem a poesia no olhar, vem o António e o traquina do Rafael que lhe pede colo com tanta doçura que não o consegue evitar. Olhe, surpresa, vem o Ricardo, o seu neto por simpatia, e por quem a Maria Eugénia nutre o mesmo sentimento de amor, como se fora seu neto de verdade.

Os seus olhos lacrimejam logo aos primeiros beijos, assim não vale...A seguir vêm a Rosita, a Georgete, O Manuel que traz a Isa, sua mulher e a maravilhosamente bela Belinha, a sua única menina da segunda geração. O som das vozes de alegria ressoa por toda a casa em harmonia de sons, é tanto o amor que se sente do lado de fora da casa. Batem à porta e o seu coração estremece, é o Lourenço o seu neto primogénito, e traz um ramos de lindas flores que a enternecem é comovente o seu abraço.

Os seus olhos inquietam-se por um momento que se fez de silêncio. Olha a mesa posta com a sua mestria de tantas vivências. Sabe que falta apenas uma das suas crias, tão amada como todas as outras, tão querida e desejada como cada uma das outras que a olham porque sentem de si como você delas. Falta Anabela. Mas sabe que era impossível que viesse, muita despesa, o marido ocupadíssimo. Afasta os cabelos com o seu maravilhoso gesto carregado de sensualidade, a sua sensualidade. E diz, peremptória, como se tivesse acordado de um sonho:

_Vá, meninas e meninos, estamos todos, vamos começar!!!...

A sua música, a música que se tinha oferecido a si própria para a acompanhar na transbordante alegria de os ter em sua casa, parou de repente, alguém colocara uma outra música, a que lhe ofereciam todos no seu conjunto a música deliciosa do parabéns a você. Os mais pequenos batiam as palmas de contentes, havia lágrimas de alegria em todos os olhares fixos na sua imagem sedutora de mãe. Batem à porta de novo. O seu rosto corado.

E é a Maria Eugénia que corre para a porta, embargada de comoção, incrédula mas crente o coração apertado, sem espaço, latejando, os olhos sem ver, toldados de lágrimas abre a porta e cai nos braços dela,

_Anabela, minha filha!!!...

E todos acorrem em volta de si e acompanham  a música:

Parabéns a você...nesta data querida ....muitos anos de vida...uma salva de palmas...

_Seu nabo!!!...
 

Autor: J.R.G.


Original oferta de Natal ou Aniversário 

É o que me proponho. Escrever sobre vidas anónimas que valem as luzes da ribalta ou a fixação histórica e que traduzem  a essência de um homem, de uma mulher. Uma oferta de Natal ou aniversário.

Escreverei por encomenda, preços  a partir de 60 Euros, de acordo com extensão e pesquisa de documentação. Mas com a paixão que o percurso proposto me suscitar.

Aguardo a vossa proposta.

 

J.R.G. 


 

 

07
Nov08

UMA HISTÓRIA DE NATAL!...

romanesco

 

 

O AMOR DOS SIMPLES...

I

Nasceu ao quinto dia num mês frio, Janeiro, daquele ano de sessenta  e era o terceiro filho da família que já tinha um casal e que se projectava em quantos a vida lhes proporcionar, como dádivas de Deus e frutos de se amarem nos corpos e nas almas.

Cresceu feliz, até ao dia em que o pai sucumbiu a uma cirrose galopante o que fez com que se alterassem  os destinos de todos eles, interrompendo estudos e projectos sonhados. Porque a vida é sonho e o sonho acrescenta vida .

Carlos Alberto era um rapaz elegante, altura média, cabelos e olhos castanhos, olhos leais, sorriso nos lábios e sempre amável para os amigos e os colegas do trabalho que precocemente tivera que abarcar. Tinha uma paixão e um sonho que o acompanhava de menino, a descoberta de como os  brinquedos electrónicos se moviam ao simples toque de um botão, daí a todos os aparelhos que faziam parte do seu quotidiano, uma curiosidade para descobrir o principio e o meio da ciência electrónica. Desmanchava aparelhos, reconstruía e foi ganhando amor a essa forma de recuperar aqueles que o tempo e o uso colocara fora de serviço. Fez até um curso de electrónica por correspondência, que lhe trouxe bases importantes para as  suas aventuras de descoberta ao funcionamento dos mecanismos.

O trabalho de estafeta que fazia na empresa, não era de todo monótono. É certo que via quase sempre as mesmas pessoas, mas foi-se habituando a descobrir que cada momento era diferente, como se as pessoas mudassem de dia para dia, de instante para o seguinte.

Conheceu uma jovem por quem se enamorou, uma jovem atrevida, bonitinha, mas fácil na forma como se dispunha à partilha das intimidades, ter sexo com ela, não foi um deslumbramento. Ficou-lhe um vazio para o qual não encontrava resposta, como quando um aparelho tinha tudo para funcionar e ao  carregar o botão, não acontecia nada...

Naquele dia ao entrar no escritório, distribuindo bons dias pelos que ia encontrando, parou de repente, sentindo um calafrio estranho por todo o corpo, sentindo-se preso de uns olhos castanhos, uma pele clara e aqueles cabelos compridos, castanhos como os dele. Linda, linda, linda, mas que mulher!!!...pensou e dirigiu-se a ela para a saudar.

_Olá princesa! És  a nova telefonista, ou os meus olhos estão noutra galáxia?

Ela, tímida e lisonjeada por tão principesca saudação a que nunca fora habituada, presa, num primeiro instante, naquela figura galante de olhos tão brilhantes como nunca vira em outro homem. Embora, filha única, tivesse recebido todos os mimos que se podem imaginar

_Sim, sou a nova telefonista, muito prazer. Chamo-me Clara Branca das Neves. E o senhor, quem é?

_Qual senhor, sou apenas um colega e estou encantado por te conhecer, por te sentir tão menina num corpo formoso de mulher, vais ver que nos iremos dar bem. Sou o Carlos Alberto, mas os amigos tratam-me por Carlos.

Ficaram a olhar-se, por momentos e foi ela quem primeiro desviou o olhar, numa timidez inocente, para se dedicar ao atendimento telefónico.

Carlos passou todo o dia com a  imagem de Clara no pensamento. Uma figura de menina dócil, mas convicta do que pretendia, bonita, a voz sedutora, as maminhas harmoniosas sob a camisola de lã de cor  rosa  debruada a azul na gola  junto ao pescoço, deixando este a descoberto, alto, a pedir beijos e devaneios que povoavam a sua mente. Vestia calças ele preferia ver-lhe as pernas, talvez  até sentisse o cheiro emanado do seu corpo.

Carlos e Clara, brincaram com as palavras, ele  galante, ela difícil, teimosa em reconhecer que era amor o que se vislumbrava das conversas amigas em crescendo de ansiedade e de fervor das almas enamoradas. Até que ele se decidiu a tomar a iniciativa.

Naquele dia acordou com a ideia de avançar para a consolidação desse sentimento que o absorvia na quase totalidade do seu ser e que sentia nela, como que a convidá-lo a entrar na sua vida, pela porta grande da frente, com decoro e cumprindo toda a tradição em que foram educados.

Carlos comprou um lindo anel de noivado. A caixinha era grená, de veludo, e quando a abria, o brilho das pedras preciosas ofuscavam-lhe os olhos e era também a comoção. Sim,um homem também chora, quando o momento é o do grande amor da sua vida.

Clara não sabia o que dizer naquele momento em que ele, de mãos trémulas apertando a caixa, a voz segura e quente:

_Clarinha, eu amo-te. Aceitas casar comigo?

Toda ela corou. As mãos inquietas, os olhos luzidios, os lábios entreabrindo-se num sorriso incandescente, o coração a 100 há hora como ela gostava de dizer, como o sentia há muito sempre que o via a ele, o seu Carlos.

_Sim, Carlos, eu amo-te muito e aceito casar contigo, mas primeiro vamos conhecer-nos melhor, namorar.

Ele disse que sim. Com a cabeça, com todo o corpo que se aproximou dela e numa manifestação súbita, ou esperada, deu-lhe um beijo ao de leve nos lábios carnudos e húmidos e sentiu que os corpos, o dele e o dela tinham estremecido, como se um choque eléctrico tivesse ocorrido e os aproximasse em correntes de afectos sublimes.

Em volta deles, por detrás do momento superior que viviam, os colegas aplaudiram, com palavras de parabéns e desejos de felicidade.

II

Durante cerca de quadro anos namoraram em edilicos momentos de absorção de si próprios, um no outro, com birras e amuos, seguidos de pazes feitas com mimos e outras fantasias, passeios de mão dada junto à foz, tentativas de sedução dele, para que fizessem amor, unissem os sexos numa evidência de amor que sentiam, do interior de si, ás vezes violentos, os desejos, os anseios, o cio de cada um, o cheiro indutor que se exalava dos corpos numa emanação natural que os sentimentos fortaleciam e se testavam à rigidez dos principios.

Clara fazia questão de casar virgem. Era um sonho de menina, podiam beijar-se, envolver-se em afagos, podia até mexer-lhe nas maminhas, beijá-las, mexer-lhe no sexo, beijá-lo se quisesse e ela faria o mesmo com ele, o que lhe desse prazer dela, de estar com ela, mas sexo com sexo, fazer amor, só depois do acto solene do casamento.

E ele aceitava, ardendo de desejo, mas aceitava, porque sentia por aquela mulher um amor profundo, um sentimento de respeito por tudo o que nela era um simbolo de pureza. Aceitava que fosse ela a decidir, era uma manifestação da sua, dela, maturidade, ante os desvarios infantis dele, homem, a pensar apenas na sua satisfação libidinosa.

Chegou o dia do casamento.Um primeiro de Agosto quente que marcaria para sempre as suas vidas em comum. O nervosismo e a alegria de mistura com os sentidos da enorme responsabilidade do acto que iam consumar e de  finalmente puderem dar azo a toda a imaginação dos corpos em conluio para a construção da sua felicidade. Entrar nela e ela senti-lo na sua totalidade, no seu corpo.

A festa reuniu as famílias de ambos, e amigos, em alegre convívio onde o comer foi farto e a alegria esfuziante se contagiou de uns para outros, até que a hora do voo se aproximava, para os levar à Madeira, onde projectaram  a lua de mel, impondo  que partissem.

A lua de mel na Ilha da Madeira foi paradisíaca. A Ilha é um paraíso e rodeada de mar que eles tanto amavam, foi um cenário maravilhoso que os envolveu . Fizeram sexo a noite toda, em explorações dóceis dos corpos e das sensações produzidas. Ele, mais experiente, foi-lhe ensinando do que sabia. Ela ,plenamente confiante do seu amor, deixando-se conduzir, confiante e absorvendo todas as delicias de ser amada até à exaustão. Juraram amor eterno e fidelidade aos principios do projecto comum que agora encetavam. Foram doces delírios das almas apaixonadas.

Compraram casa, na sua cidade, o Porto, para viverem, suficientemente grande para a prole que se perspectivaram ter.

Clara queria ser mãe. Carlos ansiava por ser pai. Ambos faziam projectos para esse evento maravilhoso que os extrapolaria para a eternidade. A vida fluía, simples, por entre as dificuldades que surgiam dia a dia, pequenos nadas que os enervavam, problemas das famílias de origem para cujo entendimento apelavam constantemente ao amor que sentiam um pelo outro e por si próprios enquanto parte do outro, para se entenderem, para se continuarem a amar.

Foi ela quem sugeriu que fossem ao médico, que fizessem exames, para saberem a razão de não engravidar, se havia uma falha genética ou apenas biológica, se era possivel emendar o que estivesse errado. E foram.

Os resultados dela eram animadores, nada obstava a que tivesse filhos, ser mãe. Carlos, que tivera a coragem de se submeter ao teste, ao contrário de tantos outros, que sempre consideraram que o problema de gravidez era sempre da mulher e que quando elas, após um curto tratamento, apareciam grávidas, exaltavam as suas razões, de como estavam certos, sem cuidarem de por em causa se o filho era efectivamente deles ou de um outro a que a mulher cansada de se sentir desprezada, acorrera numa conjugação de afectos para ser mãe.

Sentiu que o mundo lhe caía em cima quando os resultados lhe trouxeram a evidência da sua infertilidade. Chorou, angustiou-se, sozinho na penumbra de uma casa de banho pública, onde se refugiara, como se sentisse todo o peso da multidão da rua, como se todos os olhos o apontassem como a causa e o efeito da sua nulidade procriadora.

À noite, no sossego da casa grande, Carlos e Clara discutiram a nova realidade, partindo do zero, ele colocou tudo à disposição da mulher amada. Podiam divorciar-se e ela encontraria um homem que a estimasse e lhe desse a possibilidade de ser mãe. Clarinha dizia que não, enroscando-se no corpo dele, á procura dele, do todo dele que se esvaía nas palavras. Podiam tentar a fertilização in vitro recorrendo a dador anónimo. Clarinha, que não, ser mãe só através dele, o seu amado Carlinhos. Ele insistia com soluções que ela  podia ter um amante, de entre um dos amigos com quem simpatizasse mais, só por uns dias, até engravidar. Clarinha que não, que ele era louco, tolo, que perdera o juízo, ela aceitava não ser mãe, sem traumas. Era a vontade de Deus. Se Deus os juntara e Deus sabia que o sémen dele era infértil, ela submetia-se dócilmente à vontade de Deus. E abraçaram-se com ternura, beijaram-se, agarraram-se das palavras e dos sentimentos que deles saíra em votos de amor e fortaleceram-se na nobreza das suas decisões. Não seriam pais, nem biológicos nem afectivos. E selaram-se em sexo, como nunca até então, num frenesim de amantes na doce loucura do amor.

III

Clara conheceu um homem mais velho de quem se tornou amiga. Apresentou-o ao marido e falaram de generalidades. Era um homem de palavra fácil, palavras sedutoras que atraíam imagens de sonhos inventados. Ele falava de tudo com naturalidade, de sexo, de amores, infidelidades, de prazeres que a libido construía sem que a pudéssemos controlar. Falava de aromas e sabores, de amores absolutos e ela, Clarinha, adorava ouvi-lo, de se confrontar consigo própria e com o seu amor próprio, que reafirmava a cada teste de Anastácio Bandarra, era assim que se chamava este amigo, que viera do sul com a intenção de se fixar no Porto, caso as suas ideias se consolidassem, se materializassem em alguém predisposto a aceitar as suas teorias de vulnerabilidade da alma, quando o corpo insiste para que se completem os ciclos do absoluto, no amor e na vida em amor.

Carlos Alberto tinha plena confiança em Clarinha, nem se importava que ele, Anastácio Bandarra, a tratasse familiarmente por minha querida amiga, ou simplesmente por querida Clarinha.

Acresce dizer que Carlos Alberto tinha concebido um dispositivo electrónico capaz  de captar a grande distância imagens e sons, ainda que difusos e que colocara um em cada salto dos sapatos de Clarinha, era um sonho a realizar-se.

Não que a quisesse controlar, mas era a única possibilidade que tinha de testar o seu invento, e não dissera nada para não estragar a surpresa que lhe faria neste Natal, com as gravações de todos os passos que ela dera.

Anastácio Bandarra tinha uma fixação teórica em Clarinha, pela sua personalidade teimosa , mas dócil ao sentido das palavras, como se fosse uma contradição, um absurdo de ser e não ser, pela sedução do seu olhar e do seu sorriso, pela beleza do seu todo de mulher e considerava um desafio importante que ela se recusasse a ser mãe por amor ao seu marido. Era um homem a caminho dos sessenta anos, charmoso, cabelo grisalho e pele morena, galante no trato e quente nas palavras, que direccionava com precisão no rumo certo do que pretendia.

Ele convidou-a para saírem, num dia em que Carlos resolvera ir assistir a um jogo de Futebol que prometia grande excitação e Clarinha recusara acompanhá-lo, por não se sentir motivada para o evento.

Falaram da natureza, do mar, de países distantes, das relações entre homens e mulheres, de amor e de amizade, de amor de amigo, amor da alma que não tinha a necessidade de amar o corpo, de ter do corpo a fruição total ou abstracta.

_Sim, eu sinto uma grande amizade por ti, a que poderia chamar um outro tipo de amor, que não o que sinto pelo meu marido.

_E serias capaz de me beijar?

Clarinha corou e sorriu, olhando-o nos olhos e agarrando nos ombros dele deu-lhe um beijo no lado esquerdo do rosto.

_Já dei!...

Ele riu-se com gosto, gargalhou durante segundos entre sorrisos e palavras inteligíveis.

_Assim não vale, miúda querida. Eu dizia na boca, nos lábios, molhados pela língua, chupar a língua.

_Nunca beijei com a língua, apenas encosto de lábios, o meu Carlos não gosta. É tolo, mas eu respeito tudo do meu Carlos, o meu amor..

Anastácio Bandarra olhou surpreso a naturalidade daquela mulher que estava com ele, que ouvia dele as palavras e não desarmava de amar o seu marido, onde outras, carentes de fantasias eróticas, se deleitariam por envolver-se num romance de desvarios amorosos.

_Aluguei aqui uma casa, queres ver?

_Sim, não me importo.

Clarinha acreditava na sua intuição. Sentia que por vezes era demasiado crédula, alguma ingenuidade fora de moda, mas não se dera mal até então, se bem que neste momento, aquele homem era quase um desconhecido. Tinham-se falado à distância e era praticamente a segunda vez que se encontravam. Sentia sinceridade naqueles olhos, ainda que por vezes malandros, atrevidos, mas pareciam-lhe leais.

Anastácio Bandarra fechou a porta à chave, retirando-a da fechadura. Era um rés do chão alto, com grades nas janelas e com uma vista soberba sobre o Douro.

_Que tomas?

_Apenas água. Tens aqui uma bela casa!...E a vista é linda.

_Sabes, Clarinha, trouxe-te aqui porque quero dar-te todos os prazeres que ainda desconheces, chupar-te a língua em beijos ardentes de sedução, beijar-te o sexo húmido dos fluidos das sensações que te faço sentir, penetrar em ti no auge quase absoluto do prazer de dois corpos que se interiorizam, atingir o absoluto pleno dos corpos exaltados pela libido e fazer-te ter um filho meu, nosso que criaremos longe. Numa  Ilha, se gostas de ilhas que pode ser a Madeira, ou nos Açores. Ou numa outra cidade, Nova Iorque, Londres, Paris ou Barcelona. Sou rico, viverás como uma princesa, serás mãe. Ser mãe.

As palavras sussurradas de Anastácio Bandarra, não a fizeram desviar os olhos do seu Douro amado. E foi dizendo, com a maior naturalidade, como se não estivesse refém de uma alma, ou pensamento, de homem alucinado por um objectivo em que ela era a razão.

_Mas sabes que só faria tudo o que dissestes se fosse com o meu marido. Amo muito o meu Carlos, de uma forma que não sei bem como explicar. Estamos casados há dez anos... Quando o vejo, ainda hoje, o meu coração acelera a 100 à hora. Contigo, só se me forçasses, amarrando-me, me violasses, me matasses e devassasses o meu corpo inerte. E eu não acredito que fosses capaz de o fazer. Sou tua amiga, só te quero como amigo...

Anastácio Bandarra olhou de frente aqueles olhos castanhos, límpidos, leais e ternos, onde toda a doçura de um coração bom se espelhava.

Alguém bate à porta com estrondo.

_Clarinha!...Estás aí, meu amor? Estás viva?...

Era uma voz ansiosa, aflita. Angustiada que repetia as pancadas na porta e os gritos que exigiam uma resposta rápida, antes que arrombasse a porta com a força que um homem vai buscar nestes momentos, vá lá saber-se onde .

_Estou aqui, meu amor, meu Carlos querido, não me aconteceu nada, não se passa nada.

Clarinha correu para a porta e apanhou a chave que Anastácio Bandarra lhe estendeu, abrindo-a e recebendo nos seus braços o corpo amado.

Carlos Alberto, o rosto congestionado pela angústia e a raiva, afastou-a da frente e brandindo uma faca de cozinha dirigiu-se para Anastácio Bandarra que se encolheu a um dos cantos da sala. Clarinha gritou-lhe.

_Não!....Carlos, meu amor, não faças mal ao nosso amigo, estávamos apenas em amena cavaqueira amiga. Não se passou nada de estranho. Apenas as palavras. Mas como descobriste a casa?

_Não se passou nada e estão aqui fechados? Ele queria por certo violar-te. Eu acredito em tudo de ti, que não vieste de livre vontade, mas ele...

_Vamos para a nossa casa, explicar-nos-emos melhor.

Clarinha aproximou-se de Anastácio Bandarra e deu-lhe um beijo sobre os lábios.

Saíram ambos, Clarinha e Carlos, de mãos dadas, serena ela e ele ainda inquietado pela ansiedade da busca e pela emotividade do encontro.

O carro parecia voar. Ele olhava-a docemente e ela retribuía com o seu olhar apaixonado de menina.

Já em casa, na casa grande que compraram com as economias  de cada um, sentaram-se de frente , os olhos amantes de cada um em particular e do todo que são como um só.

_Foi apenas um teste que Deus me quis fazer. A ver, talvez, se estou pronta para mais dez anos de amor profundo com o único amor da minha vida, tu, meu Carlos adorado. E vai ser Natal...E tu? Como me descobriste, meu amor?

Carlos olhou-a surpreso, os olhos toldados pela comoção do momento, acreditando tudo dela, bebendo tudo dela, ele que acreditava que a mulher é que é o sexo superior, ou deveria ser. Descalçou-lhe um dos sapatos.

_Sabes Clarinha,  meu amor, inventei um mecanismo que procurei testar em ti sem o saberes. Aquela maquineta que vês ali é um difusor e receptor de sons e imagens, com gps, ouço as palavras e sei sempre onde estás, se te acontecesse alguma coisa, como um rapto. A transmissão é feita através desta espécie de chip que introduzi no salto dos teus sapatos.

Clara Branca das Neves levantou-se e abraçou-o com paixão e êxtase.

_Meu amor, Deus testou-nos na totalidade da nossa pequena grandeza face a Ele e saímos ambos bem desse teste maravilhoso. Amo-te sempre!...Meu Carlinhos querido!...Feliz Natal!...

_Amo-te sempre, minha doce mulher!..Minha Clarinha amada!...Feliz Natal!...

E amaram-se noite dentro, já Natal, prendando-se de inusitadas emoções, num pleno absoluto de duas almas e dois corpos consubstanciados na plenitude infinita do amor.


 

Autor: J.R.G.


 

É o que me proponho. Escrever sobre vidas anónimas que valem as luzes da ribalta ou a fixação histórica e que traduzem  a essência de um homem, de uma mulher. Uma oferta de Natal ou aniversário.

Escreverei por encomenda, preços  a partir de 60 Euros, de acordo com extensão e pesquisa de documentação. Mas com a paixão que o percurso proposto me suscitar.

Aguardo a vossa proposta.

 

J.R.G. 


 

26
Out08

LEILA - VIDÊNCIAS DA ALMA

romanesco

A vida sempre lhe sorrira fértil em sonhos que se iam transformando em realidades que sugeriam novos sonhos, numa sucessão infinita de probabilidades pensadas nos sonhos  e que partiam de si alegremente à conquista da luz e da alma que as solidificasse em realidade.

Vivia numa cidade pequena dos estado de Minas, mulata, de corpo altivo e olhos luminosos de uma vivacidade que a tornavam temida, porque as suas palavras eram cortantes, não ofendiam, mas cortavam dos sonhos alheios, a magia .

Casou e projectou viver em harmonia uma vida plena de momentos doces de felicidade. Sabia que dois destinos, duas almas, duas vontades, era algo de diferente, não era pai, não era mãe, era ela e um outro ser, um homem que lhe parecia uma alma capaz de complementar as insuficiências que via inscritas nos seu sonhos.

Tiveram três filhos, na ânsia de se multiplicarem, de se expandirem em amor. Três filhos lindos que eram o seu orgulho de ser mãe.

O marido de Leila, seu Raimundo, que sempre mostrara uma total afeição pela esposa, sofria de um mal psíquico que não estava totalmente descoberto, nem de si, nem em si e se mantinha num secretismo absoluto, no mais profundo leito da sua alma.

Um dia em que Leila saiu para umas compras de Sábado de manhã, ela que era uma mãe muito possessiva, terna,  previdente, quando estava nas compras sentiu uma sensação estranha vinda de dentro a tomar-lhe o pensamento todo, a apertar-lhe o peito, a descompassar-lhe as batidas do coração. E deu como que um grito: Não!...e saiu disparada,deixando as compras no carrinho do super mercado.

Correu esbaforida para sua casa que era térrea e tinha um quintal grande onde plantava flores e alguns legumes para suprir necessidades básicas e que tinha um poço de grande profundidade, fundo escuro, fundo mágico onde o seu rosto por vezes ondulava quando atirava pequenas pedras para lá e as águas se agitavam em círculos luminosos que lhe transmitiam sinais.

E eram esses círculos ou sinais que a alertavam agora, para algo de terrível que estaria para acontecer.

O quadro que se lhe deparou era Dantesco: seu Raimundo amarrara os três filhos e os colocara num carrinho de mão de transportar terra e com um deles, que se debatia e gritava, em seus braços,  preparava-se para os atirar para o fundo do poço.

Leila, manteve o sangue frio e pegando num ferro que estava por ali abandonado, ou que alguém , ou Deus, colocara ali, correu na direcção de seu Raimundo e zás, derrubou-o com uma única pancada.

Desamarrou os filhotes, chamou o socorro para o marido inerte e partiu para casa de um irmão, Flávio, que a acolheu e queria partir para acabar com seu Raimundo. Leila não o permitiu. Agora havia que partir para outra situação. Não podia continuar naquele lugar e não confiar mais em deixar seus filhos sós.

Entregou-se ao sonho dia e noite. Raimundo escapara ao golpe e estava no hospital se recuperando. Leila contactou seus irmãos que estavam em Portugal que, alertando-a para as dificuldades da integração a entusiasmaram a partir em vez de viver enclausurada no seu imenso Brasil tendo um marido fixado na morte de seus próprios filhos.

Congeminou o sonho, espartilhou-o, reuniu pedaços que colou, projectou sua nova vida num país estranho, mas onde a língua e a cultura se assemelhavam. Haveria de encontrar gente de bem. Consolidou o sonho como uma predição e era já a realidade que a transportava no enorme avião em que se estreava como viajante dos ares, tão próxima de onde lhe vinham os sonhos.

Aceitou a indicação de um irmão para que ficasse numa cidade pequena, junto ao mar, de onde sempre podia imaginar o seu Brasil ao fundo, quando se desce, seguindo a inclinação do por do sol.

Viveu dias de grande dificuldade, de não ter o que comer, mas as crianças era o que mais a incomodava, Ter comer para as crianças. Leila sempre acreditava que havia de criar seus filhos e só depois morrer. Projectou ajudas e encontrou almas que se dispuseram a dar-lhe ferramentas de defesa e de construção dos seus alicerces para sobreviver à enxurrada.

Gente certa no lugar certo e que tinha da ideia de proporcionar ensinamentos para pescar, uma outra realidade e que era a de que, até se aprender, era preciso ter de comer e onde ficar.

E foi assim que de sonho positivo em sonho positivo, extrapolando do sonho a sua realidade a que era e a que queria, que alugou casa, obteve ajuda oficial, sobrealogou a um amigo de infância caído do céu, um quarto vazio, e foi montando um salão de cabeleireiro para cujo sucesso muito contribuiu a sua arte, o seu optimismo e a partilha de tudo o que sentia de positivo com aquelas almas que a ajudavam.

Os filhos cresciam, saudáveis e felizes. Persistiam dificuldades, mas menores, um pouco mais de tempo, sem pressas, e conseguiria . Foi então que lhe sobreveio um diagnóstico médico que a deixou abalada. Seu rim estava desfeito, sem cura, era preciso encontrar um dador compatível urgentemente e a inscreveram desde logo em lista de espera para transplante e que procurasse junto da família, alguém que se dispusesse e fosse compatível.

Escreveu para Minas, a seu irmão Flávio, que era de todos o que sentia mais no interior de si própria e ele a ela, como se fossem ou tivessem sido projectados para gémeos.

Ele respondeu de imediato, que marcasse a consulta para os testes que ele vinha logo. E veio. Era uma tarde quente daquele Verão Estiado, o sol no pino do dia a transmitir força à sua alma sonhadora que acreditava com um sorriso num desfecho positivo que a libertaria do sufoco de se saber condenada a não cuidar mais de seus filhos.

Feitos os testes, o irmão era compatível e estava disposto a doar-lhe um rim para que ela sobrevivesse. Se tudo corresse bem, ambos festejariam o mistério da continuidade de suas almas sobre a vastidão do Planeta.

Leila lembrou-se de dar uma festa enquanto aguardava o dia ,já marcado, para a operação de transplante. Todos os dias eram uma festa do seu espírito positivo, mas esta seria uma festa em que reuniria amigos e amigas que sentia tão  próximos de si que eram como se a sua alma poisasse em cada um deles sempre que queria descansar. Além de que a preocupava, não por si, mas pelo irmão. A operação podia correr mal e morriam os dois, mas podia morrer só um deles. Se fosse ela, já estava destinada, mas o irmão que estava são, seria uma dor que a acompanharia toda a vida se sobrevivesse. Mas queria acreditar no sucesso total.

A festa ia animada, noite dentro, Leila, seu irmão Flávio e os amigos, musica Brasileira, samba e canções de sucesso no Brasil e em todo o mundo. O telemóvel toca insistentemente, mas o ruído da música abafava, as vozes em uníssono que se reuniam na orgia das almas. Os copos de mão em mão, mais cerveja, caipirinhas, e é quando algo a aproxima do local de onde pode ouvir o toque nítido, agora evidente, do celular, que a chama.

Atende e ouve, do outro lado, como se de si,ou de um além estranho, a voz afável e quente que lhe diz:

_Leila!...

_Sim, sou eu!...

_Leila, ainda bem que está em casa. Temos um rim disponível, uma pessoa que acabou de morrer, tem de estar pela manhã cedo no hospital,seis horas. Pode?...Quer?:::

_Sim, lá estarei, vou já se quer!...

Respondeu tudo automático, como se fosse uma outra pessoa, uma outra de si, ainda longe da realidade da festa quando se virou e gritou num tom de alegria imensa.

_Gente!...Parou a música!...

Todos se calaram, os olhos apreensivos de entre a névoa do álcool, de entre o eco das cantigas da Pátria longínqua, atentos ás palavras.

_Gente, eu sabia, eu sentia que Deus não queria submeter o meu Flávio a esta prova de amor. Tenho um dador e vai ser já daqui a pouco que vou ser operada.

Um grito de alegria, mais cerveja, mais música e Leila e Flávio abraçados , chorando como uma só alma na orgia da festa.

A operação correu bem e Leila regressou a casa, casa vazia de seus amores, os filhos ficaram com um irmão dela até que tudo em si voltasse à normalidade. Vivia só, Leila, com seus sonhos, havia de ter uma casa dela, um marido que a respeitasse e que com ela quisesse romper as brumas que se envolviam no sonho. Ser feliz, criar os seus filhos.

No hospital disseram que se sentisse alguma perturbação fosse directo lá. Nada de outros hospitais.

Estava ela nas congeminações de tornar realidades novos sonhos, quando começou a sentir um calor imenso que a percorria e se instalava, como se um fogo de chama e labareda sem fumo, sem aviso prévio a quisesse consumir lentamente. Tentou levantar-se e caiu no chão, os pensamentos longe. Ouvia tocar o telefone, mas não via o telefone. O pensamento nos filhos, sentia que ia morrer. E não queria morrer sem ter cumprido o que achava de direito, ter os filhos criados, os filhos que salvara do poço, os filhos que não pediram para nascer, os filhos que eram toda a luz da sua alma. E o telefone que tocava e não o via, não sabia de onde esse barulho estranho que ela própria instalara. Ia morrer, Ia morrer...

Lá está, com esforço, arrastando o corpo cada vez mais pesado, o volume a aumentar, o seu corpo ainda esbelto, agora disforme,

_Leila!...Leila!...

Ouvia a voz de Ana, uma amiga de cá, do coração, da alma e a voz que não lhe saía....

_Ana, vou morrer!...

-Leila, vou já para aí, abra a porta e ponha um sapato, alguma coisa, que mantenha a porta. Vou já para ai...

Abriu a porta de baixo, colocou um sapato a impedir que a porta se fechasse e deixou-se ficar, sentia que a vida se esvaia de todo. Os filhos...

Ana chegou e depara-se com o quadro indescritível, o corpo inchado de Leila, a febre elevada e a voz dela, sussurrante.

_Ana, eu não vou morrer sem ter criado meus filhos. Me leva, Ana...

Ana chama a emergência, os bombeiros chegam rápido mas querem levar Leila cumprindo os preceitos legais, primeiro o hospital de residência. Ana discute com eles a urgência de a levar ao hospital que a operou, eram essas as indicações.

Exaltam-se, discutem e Ana toma uma resolução.

_Ajudem-me a coloca-la no meu carro eu levo-a!...

Os bombeiros Olham-na surpreendidos e executam o pedido. Ana parte a toda a velocidade.

Vai sem controlo emocional, olha o corpo de Leila que arde a seu lado, mal respira, julga que a leva morta, conduz todo o trajecto como se fosse uma outra pessoa e não ela. Vocifera contra o trânsito que lhe obstrui a passagem, buzina.

Não sabe muito bem onde fica o hospital mas guia o carro por estradas e ruas, sons e cheiros de um corpo que lhe parece já não ser. e, de repente, o nome do hospital ante os seus olhos, como se uma visão e não uma realidade, como se algo ou alguém que não ela a tivesse conduzido com a precisão infalível de um mecanismo irreal, absurdo.

Viu o corpo que a urgência levava e aguardou na sala um veredicto que se recusava a acreditar. Leila...

O médico surgiu como uma visão aos olhos de Ana.

_E então Dr.?...

_Salva por um milagre da prontidão com que a trouxe.

Leila, tudo projectado mulher, por entre as brumas do sonho

 

 

 

É o que me proponho. Escrever sobre vidas anónimas que valem as luzes da ribalta ou a fixação histórica e que traduzem a essência de um povo. Primeiro de uma família. Primeiro ainda, ou antes de tudo, a essência de um homem, de uma mulher.

Escreverei por encomenda, preços de acordo com extensão e pesquisa de documentação. Mas com a paixão que o percurso proposto me suscitar.

Aguardo a vossa proposta. É uma oferta bonita de Natal ou Aniversário.

 

J.R.G.

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