ESCRITOS À MARGEM DA GUERRA!...O BÁSICO!!!
foto tirada de Verde gaio fotos-lancha de transporte-Guiné Bessau
que fazíamos nós eu ali
descendo o rio indolente acobreado
por entre margens verdes luxuriantes
na lancha com homens embrulhados em peles de javali
rodeados de viaturas e material bélico acomodado
pensamentos sem pátria navegantes
o Manel na base da hierarquia
eu básico?! ...pá...eu sou padeiro
dizia com a boca aberta desdentada
o brio que o aproximava perto da fasquia
de não ser de todo inútil prazenteiro
medonho não fora o sorriso na boca amedrontada
do interior da mata se quisessem
poderiam colocar na lancha uma granada
de nada valendo o olhar atento dos fuzileiros
quantos de nós se salvariam se pudessem
navegar o sangue vertido na lancha escaqueirada
ao som da gritaria e dos morteiros
melhor ser positivo se tal nunca acontecera
o ar rarefeito pelo sol abrasador
comprimia as veias que produzem pensamento
quando chegamos ao local entardecera
crianças velhos de bengala à espera do dador
um peso era a moeda pedinchada vil tormento
a terra era amarela encarniçada
tão longe do verde esperançoso dos jardins
cães famintos esqueléticos de olhar triste
nem brisa leve na aragem quente que gelava
nem o cheiro galvanizante dos jasmins
terra inóspita conquistada que nos resiste
a noite restabeleceu o silêncio expectante
nuvens de mosquitos ofuscavam nas lâmpadas toda a luz
imiscuíam-se na comida até à boca
num festim surreal sobre a pele suada escaldante
a sossegar-nos dos medos que a coragem produz
intermediários sem leis sugam o sangue que nos sufoca
há um cheiro que se instala pestilento
nos poros da pele que inalam a atmosfera
dizem que é da terra dos fenos que é catinga
é um cheiro antigo a amadurecimento
que torna África sempre o princípio de nova era
assim a vida com a morte não se extinga
jrg